terça-feira, 19 de agosto de 2008

Carta a um ideal

Dizer-te que estou louco era mentir
– que eu estou velho demais p’ra endoidecer.
Não posso, pois, dizer que, se partir,
irei morrer de dor por te não ver.

Tão pouco poder-te-ia garantir
que a vida a dois feliz viria a ser;
também não sei (bem sabes!) se o Porvir
nos vai deixar sequer voltar a ver.

Não sei (quem saberá?) se o Amanhã
Nos vai trazer delícias ou tormento.
(Da vida, quem conhece toda a lei?)

Mas tenho de jurar-te, alma pagã,
que, se não me mentiste um só momento,
te sinto o Ideal que nunca achei!


Bernardes-Silva, Caderno n.º 8

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