e pronto agora
encerraste os teus lírios na camera
obscura do esquecimento e pronto agora
ranges dentes apertas parafusos
no cérebro no torno regulas o torniquete
que evita o jorro de palavras necessárias
para que te possas entender quem és
quem pois estás a ser que peixes voadores
pululam teus tropismos ou teu sal
de lágrimas que evitas de águas perdidas
de silêncios na volta do fumo para casa
do mar. e pronto agora
agora já podes mudar a cor do rosto
e já podes apertar a porca regular o torniquete
da tua inquisição metódica teu índex
teu ódio teu pesar. e pronto agora
agora que desistes e te fechas no teu quarto
mostra ao mundo a massa de que é feito um poeta.
agora já podes chorar.
(Janeiro 1997)
António Vitorino, Caderno nº 40
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