Trabalhei!
Trabalhei dias a fio,
sem nunca parar de trabalhar.
Dia após dia, suei ... e com o próprio suor;
o pão amassei,
esse pão com que aos filhos matei a fome!
Envelheci, ... trabalhando dia a dia,
ano a ano,
e como o suor, não semeei;
hoje nada tenho ... que vos dei!
Olhai vós,
por mim agora,
agora e hoje
que até o suor perdi!
Estas pernas que andaram quilómetros,
já não me obedecem,
fingem andar ...
e não andam!
Ajudai-me a levantar!
Os vossos filhos ajudei a criar,
quando eu ainda dizia:
- Velhos?! São os outros ...
não acreditava ... lutava!
(contra a falta de energias)
Lutava! ... Lutava! ... Todos os dias ...
Até que um dia ...
as pernas teimaram ... não andaram
e o coração
não mais lutou!
Ajudai-me a levantar!
Sou velho, como todos os velhos,
espero a morte, na solidão.
Tenho por companheiros os cães
E com eles, o coração.
20/08/1984
Isabel Moreira, Caderno nº 15
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário