quinta-feira, 21 de agosto de 2008

As ofendidas águas

Não sei dizer ainda quanta sede
habita a solitária água destes rios
nem do imenso frio que no fogo se oculta
para buscar seu velo ou uma nave
onde acolher se possam as palavras.
Este será afirmo seu casulo
seu derradeiro pecúlio e seu anelo
seu único refúgio e resistência.

Guardo por isso a réstia de seus nomes
nos ditongos ou sílabas que ainda
no alforge do verso me ficaram
para encontrar alento e soletrar
o presente do verbo prosseguir.

Com ela eu entreteço as caminhadas
que longe me ficaram e as outras
que contudo me esperam e impelem
a inventar um trilho ou uma nesga
de terra ou de aventura aonde caibam
os grãos de quanta areia permanece
órfã de antigos leitos deserdada

Não venho sabei então p'ra reclamar
outro penhor mais alto que não seja
o reaver da parte do quinhão
que por inteiro me cabe deste chão
que meu ainda é mesmo que ausente
como ausentes ficaram de seu mi(e)ster
os rios que dele foram separados.

Por estes rios eu digo o quanto dói
não tanto (só) o que se vê mas se pressente


Fernando Fitas, Inédito

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