quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Barcos que passam ao longo do cais

Barcos que passam ao longo do cais
Levando consigo tristezas a mais
Barcos que vão buscar o seu pão
Barcos que vão encontrar solidão.

Passam-se noites, passam-se dias
E tu não mais voltas, como merecias.
Deixaste na terra as tuas raízes
Deixaste na terra vidas infelizes.

As tuas crianças estão semi-nuas
De vermelho e negro se cobrem as ruas
Crianças que ficam sem o pai mais ver
É a vida que passa, tristeza é morrer.

Um homem do povo que morreu no mar
Levanta-te amigo, começa a lutar.
Contra esses senhores que te fazem escravo
Levanta-te amigo e mostra-lhes um cravo.

E a vida seguiu e o homem morreu
E a mãe a chorar não mais esqueceu.

Não te deixes mais roubar, ó pescador
Pela vida vais lutar
Luta pela Liberdade pescador
Pelo Poder Popular.


Ana Lúcia Massas, Caderno nº 3
(escrito no início da década de 80)

Sem comentários: