quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Dois poemas com pés de galinha

Sinto o cheiro do mar
que hoje me lava a cara
esparralhado sobre o muro
que me separa da vida e da morte

Levo também com o vento na tromba
mas isso só faz
espevitar as entranhas

Vou a pé por aqui e ali
como quem sabe onde quer ir
mas nenhum lugar espera por mim

Sou um refugiado sem pátria
sem nacionalidade

sem país
órfão de alma
por ti vou lutar e morrer
sem ti não sou nada Maria

Tudo são lágrimas que todos choramos
mortes que outrora não eram
o rebentar das bombas sobre paredes sem tectos
crianças sem braços

mães que sofrem tanto
que só conhecem a dor
a tristeza e o desespero

Homens que lutam
sem saber porquê
por quem
nem tão pouco se vale a pena
no final morrem pelo petróleo pela vaselina
que ajuda a deslizar tudo e todos para o abismo

Estou tão farto da hipocrisia humana
da mentira institucional e dos enganos políticos
até das marchas populares

A democracia está gasta
Só serve os interesses pontuais dos democratas
[com fatos Armani
óculos Cardin e malas Lacoste.


Jorge Fialho, Caderno nº 11

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