Sinto o cheiro do mar
que hoje me lava a cara
esparralhado sobre o muro
que me separa da vida e da morte
Levo também com o vento na tromba
mas isso só faz
espevitar as entranhas
Vou a pé por aqui e ali
como quem sabe onde quer ir
mas nenhum lugar espera por mim
Sou um refugiado sem pátria
sem nacionalidade
sem país
órfão de alma
por ti vou lutar e morrer
sem ti não sou nada Maria
Tudo são lágrimas que todos choramos
mortes que outrora não eram
o rebentar das bombas sobre paredes sem tectos
crianças sem braços
mães que sofrem tanto
que só conhecem a dor
a tristeza e o desespero
Homens que lutam
sem saber porquê
por quem
nem tão pouco se vale a pena
no final morrem pelo petróleo pela vaselina
que ajuda a deslizar tudo e todos para o abismo
Estou tão farto da hipocrisia humana
da mentira institucional e dos enganos políticos
até das marchas populares
A democracia está gasta
Só serve os interesses pontuais dos democratas
[com fatos Armani
óculos Cardin e malas Lacoste.
Jorge Fialho, Caderno nº 11
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