quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Logo

Quantas vezes eu ouvi baterem à porta
Quantos passos incertos
Batendo naqueles degraus de mármore seco
Quantas esperanças vãs eu não senti
Dentro de mim
Todos os mundos que eu sonhei
Todas as fugas que planeei
Tudo isso e nada mais

Logo, quando desvanecido de ilusões
Caindo triste
Fora de mim
Outro dia nascia
E os mesmos passos
Mais sonhos
Tudo isso e nada mais

Agora olho o sol
E tudo o que me rodeia
Já não sou o mesmo mar
Sou um leito seco de um ribeiro
Prestes a desaparecer
Inunda-me só a confusão
Custa-me a criar

Pergunto, que erro miserável
Digno de tal castigo
Merecido a lei de Deus
E não dos homens
Eu cometi
Sinto-me tão arrependido
Tão pobre, perdido

Que ajuda vou eu dar
A mim próprio
A que tábua me vou agarrar
Para renascer
Não sei mais o que desejo.


Jorge Fialho, Caderno nº 11

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