quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Enganos

Por baixo daquele tapete vermelho,
soam meus passos de antigamente.
Cada pancada que oiço
ressoa no espaço que já vivi.
Paredes mesmas, que brancas
ouviram e calaram meus receios,
comigo choraram e esperaram
o que pensei desejar,
mas nunca chegou.
Manta verde, esperança me deste
nos dias e dias que sobre ti sofri
e ri da felicidade que antevi.
Horas e horas a fio,
ao som do besouro que nos agride
no silêncio da noite,
revi-me em deferentes e heróicos fins.
De mim não gostei
ao ponto de nem ao espelho
me consegui olhar.
Levantar-me? Para quê?
Vestir-me? Comer? Para quê?
Eu quero é não pensar!
Da minha sede abusei
quando em desespero te suplicava,
uma palavra!
Empenhei-me em acreditar em ti,
inventei várias vidas, que te ofereci.
Por muito alto que subisse,
o teu “Não sei!” sempre ouvi.
Foram anos e mais anos assim,
à espera, à espera de começar
o sonho que estava em mim.
Enganos!


Conceição Cotta, Caderno nº 9

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