quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Uma noite

Está escuro.
Acordei agora em sobressalto,
procurei-te a meu lado
e senti o teu dormir profundo.
Não sei se foi sonho que tive,
se o sono que se foi.
Não oiço nada do lado esquerdo
e o pânico apodera-se de mim.
Salto da cama num ápice
e começo a vaguear pela casa,
em passo agitado.
Olho o relógio e noto os minutos a passar
muito devagar.
O coração bate tão depressa e tão forte
que posso medir a pulsação em qualquer parte.
Tenho muito frio
e transpiro.
Preciso de ti!
Sinto as pernas em tensão,
dor de uma corrida que não fiz.
Penso no pior de tudo,
parece não haver solução para nada.
Lembro o tempo passado e perdido,
afunda-me a felicidade que invento nos outros.
Fantasmas velhos,
que pensara para sempre desaparecidos,
perseguem-me e obrigam-me a correr ainda mais.
Olho o relógio de novo.
Será que parou?
O silêncio barulhento incomoda-me.
Oiço as cigarras no seu cantar eterno,
monótono e irritante.
Tapo os ouvidos,
embora saiba que é um movimento inútil.
Tenho medo dos meus medos.
Queria que acordasses
e me protegesses,
de mim própria.
Queria sentir o teu afago,
o teu entendimento.
Queria que me amasses tanto,
que eu não precisava de querer,
pois estavas aqui, comigo!
Mas ia roubar-te horas do teu sono,
horas tão contadas e apreciadas,
tempo que te é caro,
que não sabes o que sinto.
Não sei se pare, se ande,
não sei se vá para a cama,
se te acorde,
não sei se devo tomar qualquer coisa.
Olho o relógio mais uma vez.
Passaram cinco minutos.
Tão pouco tempo para ti,
a eternidade para mim!


Conceição Cotta, Caderno nº 9

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