Se souberes duma rima nova
não ma tragas cá
Se tiveres uma noite insónia
não venhas com ela
Porque, aqui, neste rincón de poetas
de lantejoulas e de vira-ventos
assobiamos todos contra emolumentos
nas tardes ascetas.
O que aqui se dá nem aqui se vende
turistas não põem pé nestes lugares
não sabem sequer da nossa existência
temos um portal onde mora o sol
temos a lua a cair do monte
falamos a língua que ninguém entende
Se souberes dum verso da cor da romã
se souberes da música da flauta de Pã
passa cá um dia
mas vem nu de choros, sem roupa de burlas
que nós temos cantigas, sinfonias, coros
aromas de amor às feiras segundas
Se sabes duma rima nova
guarda-a para ti
que nós vivemos na terra batida
na terra de aqui
Onde pára o vento a dormir a sesta
e me sustento de tudo que é são
debaixo do céu
aldeia moderna que rasgou o véu
da antiguidade
Fernando Morais, Caderno nº 29
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