segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ao poeta

Da terra brotaste
Trazias no peito a força dos vulcões,
Nos olhos a beleza das flores,
Na mente a palavra certa ...
E cantaste!
Cantaste a força da terra,
A verticalidade do homem,
A mãe natureza.
E cantaste
E os teus poemas
Não eram só palavras,
Eram palavras-pedras
Com que apedrejaste a injustiça,
Palavras-espingardas
Com que atiraste sobre os canalhas,
Palavras-punhais
Com que apunhalaste a tirania,
Palavras-balas
Com que não conseguiste
Matar a fome
Que tanto odiavas ...
E cantaste
E as palavras que cantaste
Eram palavras-ferramentas
Com que sonhavas
Se construiria o mundo bom
Que habitava em ti.
Eram palavras-flores
Com que se canta o amor,
O amor todo,
O amor sempre,

O amor vida!
E cantaste
E os teus poemas-sangue,
Com o sangue da alma
Escritos,
Só entraram no coração
De poucos homens,
Muitos não escutaram
O teu canto
E matam, e roubam,
E atraiçoam, e fazem guerras,
E torturam crianças,
E vilmente enriquecem
Sobre os cadáveres em que querem
Transformar-nos.
E cantaste,
Palavras simples, claras,
Às vezes rudes,
Sempre verdadeiras.
Palavras dor, fome,
Tragédia, miséria,
Também amor, carinho,
Paixão, ternura
E sempre,
Mas sempre vida!
E cantaste,
E porque cantaste
Como cantaste
Não tens lugar
No além.
Estás aqui TORGA,
Na terra dos homens!


Nogueira Pardal, Caderno nº 18

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