Que sonhos estarão ainda por sonhar?
Quanta ventura que não foi vivida?
Que doidas alegria não andam procurando bocas
[para rir?
Quantos olhares doces não vagueiam perdidos,
buscando um outro olhar irmão gémeo do seu?
Que palavras de amor esperam o momento de
[serem murmuradas?
Quantos perdões desejam ser gritados por bocas
[que se fecham?
Que tristes confissões são ditas no silêncio que
[ninguém sabe ouvir?
Quantos beijos sonhados, que nunca foram dados?
Quanta fome abrigada em corpos que se negam
a estender a mão à caridade alheia?
Quantas crianças que sofrem?
Quantas dores que ninguém vê?
Quantas guerras sem fim?
Quantas vidas queimadas na solidão da viela?
Quanta doença por curar?
Quanta felicidade a oferecer?
Quantas palavras perdidas em poesia que ninguém
[quer ler?
Tanta coisa que falta para que o sonho
possa ser um dia realidade.
Viver uma ventura desejada;
Receber alegrias e olhares doces, iguais ao nosso
[olhar;
Ouvir palavras de amor, no murmúrio suave da
[boca que se adora;
Ser enfim perdoados;
Que alguém seja capaz de ouvir a confissão
de tudo aquilo que nos faz corar;
Sentir na boca os beijos desejados;
Não ter fome, nem ver ninguém com fome;
Não ver sofrer crianças;
Que a dor se acabe para todos;
Saber que não mais haverá guerras;
Se inventem panaceias capazes de curar;
Acabar com a vala comum, mesmo que a morte
[comece na viela,
no sorriso vendido da perdida;
Poder dar, às mãos cheias, a todos felicidade;
Ler, à noitinha, um pouco de poesia
que torne a vida capaz de se viver e de sonhar.
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Manhã, que triste ideia, o sonho que sonhei
nesta poesia, que talvez ninguém leia.
Mendonça Ferreira, Caderno nº 16
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