domingo, 23 de novembro de 2008

Nada

Mirei-me no espelho do meu quarto
Pensando poder ver-me como sou,
Porque sou o que fica quando parto
A imagem de mim não me chegou.

Se sou o que não é, sendo o que estou,
Se ao caminhar p’ra mim de mim me aparto,
Se cavalgo o corcel que já parou
E se de mim eu próprio já estou farto!

E se afinal eu quero o que não quero,
Se por nada esperar ainda espero,
Se sou vida perdida e encontrada,

Se digo apenas sim ao dizer não ...
Porque é assim que sou, eis a razão
De ao mirar-me no espelho só ver nada!


Aljustrel, 1958
Nogueira Pardal, Caderno nº 33

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