domingo, 23 de novembro de 2008

Nu

Despi-me na rua do teu corpo
E nu de mim fiquei à tua espera,
Mas que espera um corpo quase morto
Que lhe traga de novo a Primavera?

Nu de mim, vazio de ti e absorto
Quedei-me nesta dor que desespera,
Sem saber se nasci ou sou aborto
Se o meu futuro ainda é ou era!

Nu de mim estou, porque não sei
Vestir-me do amor que te não dei,
Cobrir-te com o amor que me inspiraste.

Vazio de ti estou por não beber,
Na fonte dos teus olhos, do teu ser,
A água pura que em sorrisos me enviaste.


Amadora, 1961
Nogueira Pardal, Caderno nº 33

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