quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Mente aberta...

Mente aberta...
Queria ser a eleita.
Renascer e ser fera,
Poderosa e bela
Poder ser pantera!

São desconhecidos
(Por vezes imprevisíveis)
Os caminhos traçados.
Escolhas possíveis...
Decisões irreversíveis...

Perdidas num deserto, breve
Revi num areal, leve
Emoções sentidas adormecidas
Ali guardadas, sempre encolhidas.

Começaram a invadir
Para serem reconhecidas.
Tinham ali de ser encaradas
(A escondida verdade)
Para serem confrontadas.
(Inquieta a realidade)
Estavam a expandir...

A reflexão e introspecção
Uma pedida meditação.
O desviar de lembranças
Um parar das andanças
(Daquele pensamento)
O reter do tempo: o vento.

O momento saber viver
Deixar entrar o presente...
Uma paz ali eminente
Um bem-estar a envolver...

A acção alento deu ao meu rumo
Imensamente denso e profundo.
Um novo ciclo a esperar-me...
Estava assim a apoderar-me
De uma outra vida, e bem ciente
Que podia, agora, seguir em frente.

Susana Barão, Inédito

Susana Barão

Susana Barão nasceu no ano de 1986, em Almada, onde ainda hoje reside.
Actualmente estuda Bioquímica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Para além da vertente científica, ao longo da sua vida tem vindo a dedicar-se cada vez mais a determinadas áreas artísticas, entre as quais a dança (tendo praticado ballet clássico durante vários anos no Ginásio Clube do Sul, embora hoje manifeste um maior interesse pela dança contemporânea) e, mais recentemente, à poesia, sendo esta a sua estreia num evento desta categoria.

Destino

Aquilo que oiço e escrevo
o que sinto e penso
lembranças do meu ser
palavras que leva o vento
sou positivo porque vivo
existo enquanto ser
divago enquanto ando
penso ao anoitecer
escrevo pedaços do meu mundo
pego na caneta e reflicto
o vento bate na minha face
e olho o horizonte, aflito
o mundo preocupa-me
e eu preocupo o mundo
fecho os olhos e imagino
qual será o meu destino?
serei apenas mais um
no meio da multidão?
qual ser sonâmbulo
sem força nem convicção?
perguntas tenho mais que mil
respostas fogem-me de mão
já perdi momentos preciosos
na ânsia de encontrar a razão...


Rui Ferro, Inédito

Rui Ferro

Rui Ferro nasceu em Almada, em 1985, e reside na Sobreda da Caparica.
O fascínio pela poesia surgiu em 2004, durante uma relação mais forte e séria. A poesia é um instrumento puro e pleno de emoções e nele provoca uma sensação de liberdade inigualável, conforme faz questão de frisar. Acabou por se tornar um escape em várias situações da sua vida quotidiana.
Actualmente, continua a estudar e exerce funções de gestão numa empresa de mediação imobiliária em Lisboa.
Assina o blog Mind Power onde não escreve tantas vezes como gostava devido a falta de tempo.
É um apaixonado por música.
Esta é a sua estreia oficial no mundo da poesia.

Morrer!

Desejei de novo morrer!

Nenhum acto é generoso
e a inacção é ela assim
como um Amor preguiçoso
num fundo poço
de visões sem fim!
...Que esta Alma em alvoroço
irá de novo nascer!

Renascer é só morrer!

De nada valem os intervalos
por uma Luz que nunca chega
e nos convida, intrometida,
a viver sonhos e largá-los
ao sopro da brisa cega
que passeamos cada vida!

Todo o ser tem de morrer!

Que queres de mim, escuridão?
Existes tanto quanto eu!
Alimentas-te dos que te dão
em todas suas formas de ser
um nobre pedaço seu...
... para no fim,

morrer!


Rui Diniz, Inédito

Rui Diniz

António Melenas descreve o amigo Rui Diniz da seguinte forma:
«Tem apenas 27 anos e com esta idade não pode, obviamente, apresentar um longo curriculum.
Direi apenas que nasceu e vive em Almada, frequentou a Universidade Autónoma de Lisboa, é habilitado com o Certificate of Proficiency in English da Cambridge School, e tem um curso de informática que lhe permite exercer a profissão de Assistente Técnico de Internet na Novis.
Teve ainda, até há pouco tempo, uma banda que entretanto acabou, cantou em bares durante uns meses, escrevendo algumas das canções que interpretava, uma curta participação como locutor e colaborador na Rádio Voz de Almada e, last but not the least, escreveu os poemas que publicou em livro edição de autor "Corte d'El-Rei", homónimo do blog [http://cortedelrei.blogspot.com] que mantém e parece ter encontrado na poesia a sua grande vocação.»

Passagem-paisagem

Estive no Velho Mundo,
assuntando como quem não quer
nada.

Deu pra fazer umas e outras.
Voltei trás-os-montes,
transeunte,
paisano,
além-tejo,
nem sei explicar.

Mas, tudo foi beleza!
D +

Almada,
alma amada
Mais que sagrada
de Sagres.

Do Infante,
antes infante do que infame.

Antes Mar Salgado que Mal Amado.

Antes incongruente que
inconsequente.

As feiticeiras faceiras,
nos ajudam na passagem:

A juventude
rejuvenesce, encarna, encanta,
balança, embala.


A maturidade






saboreia, sorve, serpenteia,
sacaneia.

A mala vai ser remexida na alfandega
que nem almôndega.

A gente finge que não vê,
Só pra ver se passa,
a lata, a nata, a sonata
o proibido, o escondido o sub-
-entendido.

Parada jónica
batida mediúnica,
única.

Mas a gente prossegue,
De volta ao Rio
na mesma parada.

Na balada, bem badalada,
armando saraus.
Tertúlias,
Ágoras.

Agora,
tá na hora
tá na rua
tá no balacobaco!

Tá no descompasso.
Onde embaraço-me na teia e na veia,
E ainda quero mais
Alma lusitana, insana!

Ricardo Ruiz, Inédito

Ricardo Ruiz

Ricardo Muniz de Ruiz, é poeta, historiador e produtor cultural.
É graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense – UFF, e mestre em história pela mesma instituição. É professor de História do Centro Universitário da Cidade – UNIVE-CIDADE e professor do Colégio Pedro II – Rio de Janeiro. Actualmente está colocado no Museu da República (Rio de Janeiro).
Publicou Poesia Profana (2000) e organizou as antologias, Ponte de Versos (2003), com Thereza Motta, e República dos Poetas (2005), este último lançado no Rio de Janeiro em Julho de 2005 e no C@fé com Letr@s, em Cacilhas, em Fevereiro de 2006.
Coordena os eventos: REPÚBLICA DOS POETAS, no Museu da República – Rio, BR, desde 2004; o POEMASHOW, com Tavinho Pães, no Cotton Club Café, Rio, desde 2003, e a PONTE DE VERSOS, com Thereza Motta, na livraria DaConde, Rio, desde 2000.

KALÚNGA’ A-NGOMBE VIRÁ EM TUA BUSCA

Parte VIII


Escravo anódino arquitecto da vileza

Não tens direito à remição,
injustiça fiel com direito
de defesa e compreensão,
e como diria Nietzsche:
padecimento crónico
aliando a um forte acesso
[de febre.]

Em tua bravura – igualaria as coisas
Em tua coragem – direito de vingança
Em tua justiça – complacência suicida
Em tua honestidade – incontestável abismo
Em tua glória – ódio inanimado

Reprovo a Lei de Talião,
abominável piedade
dos cadáveres adiados que procriam,
não há o consolo calado.

Tu és um homem que nasceste póstumo!

Os gritos vãos e lágrimas cortantes,
não dissipam a merencória estúpida.
Injectar mentiras como escape
dum futuro correctamente INCÓGNITO.

Sem retorno é sugado pela aversão apática


Nelson Rossano, Inédito

Nelson Rossano

Nelson Ngungu Rossano (pseudónimo) é «um poeta “multi-híbrido” e “neo-africano-lusomestiço”, nascido em Portugal, porém nacional de Angola com raízes em Moçambique que remontam para a China», conforme nos conta.
«Sou o que alguns chamam de poeta, um continuador da poesia negra, tentando em minhas desobedientes palavras nas horas duvidosas dar alento aos sentimentos forçosos. Tento rasgar o tempo e descrevê-lo, dar voz aos que não tiveram voz, e em poesia percorrer lembranças minhas e não minhas, acalentando-me no puro gesto utopicamente mágico que me acontece, que me faz e constrói…»
Encontra-se a cursar Política Social no I.S.C.S.P – Universidade Técnica de Lisboa, e trabalha como recepcionista.
Participou, como actor, na curta-metragem “Cena Múltipla” de Francis Select. Foi um dos vencedores do Concurso “20 Poemas de Amor dos Jovens de Almada” em honra do poeta Pablo Neruda.
É citado na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.
Foi o vencedor do VIII Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage.

Velhas saudades

Larguei dos pesadelos e sonhei que um dia,
Descia um calmo rio cheio de remansos,
Era a minha paz, a procurar descansos
Ou mesmo escassas chuvas de alegria.
E assim descia leve sobre a canoa,
E foi-se a tarde quente vindo a noite
E mesmo só, restava-me a poesia
Que vinha nos papeis, escorrendo à toa.
E assim segui em frente pelas águas turvas,
Segui descendo o rio sem temer as luas
Que revelam os mistérios das águas para o mar
E fui feliz na vida navegando,
Pelos rios dessa vida fui deixando
Velhas saudades de uma poetisa a navegar.


Maria Lúcia Nazareth, Inédito

Maria Lúcia Nazareth

Maria Lúcia de Almeida Nazareth nasceu em Belo Horizonte (Brasil), onde reside.
É formada em Economia e tem mestrado em Economia Política e uma pós-graduação em Psicologia Transpessoal, o que lhe dá uma «uma miscigenação de ideias e pensamentos» como gosta de afirmar.
Classifica-se como «uma anarquista, sonhadora, sensível e poética».
É autora do blog Prosa Mineira (http://versosmineiros.blogspot.com) onde apresenta trabalhos de sua autoria.

Melodia

A vontade com que me enlaças,
O beijo que me aquece,
Meu coração agradece
Tudo quanto por mim faças.
Pássaro solto na madrugada
Chilreando ao som da tua voz,
Canção cantada só para nós,
Numa melodia, doce, inspirada.
Amor! Longe, mas tão perto!
Como a imensidão do horizonte
Deixa-me beber em tua fonte,
Sem a aridez do deserto.
Dunas de branca areia,
De sol bem escaldante,
É para nós tão importante
A verdade que nos enleia.
Poder ao mundo gritar
Sem sentimento escondido,
A vida tem outro sentido,
É tão bom, assim amar.


Maria Gertrudes Novais, Inédito

Maria Gertrudes Novais

Maria Gertrudes Novais nasceu em Aljezur, em 1952, e vive em Almada. A paixão pela poesia fez com que se envolvesse em vários projectos culturais, nomeadamente junto das crianças, tanto nas colectividades como nas escolas do concelho, donde se salienta a Palavra Viva.
Tem colaborado em vários jornais, revistas e participado em catálogos de exposições. Fez parte da Associação Portuguesa de Poetas e está representada na antologia Literatura Actual de Almada, organizada por Fernando Miguel Bernardes. Consta no livro Almada, Gente Nossa – entrevistas, de Artur Vaz. Faz parte da colectânea poética Vidas na Corda Bamba (2005).
É referida na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Publicou: Poemas do Meu Sentir (1987); Jeito de Ser (1988), Magia do Sonho (1991) e Poesia a Cinco Vozes, II Volume, co-autora (2002).

Em branco

Um silêncio
assustadoramente
branco

no limite

não tenho vagas
nem marés

danço
águas bebidas
cálice fantasma
vestido
no cabaré
da vida

um silêncio
assustadoramente
branco

que quero vestir
com outras vidas

do avesso

porque as águas de um rio não passam
2 x no mesmo sítio


Leonor Vieira, Inédito

Leonor Vieira

Leonor Vieira nasceu em Lisboa em 1955 e vive no concelho de Almada desde os seus vinte anos.
A pintura e a fotografia são dois dos seus passatempos preferidos. Criou, recentemente, um fotolog onde partilha trabalhos seus com os amigos: www.fotolog.com/leo_vieira56.
Escreve poesia desde a sua adolescência embora esta tenha ficado na gaveta do esquecimento e só em 2006, incentivada pela amiga Ermelinda Toscano, é que publica o seu primeiro poema no blog dos Poetas Almadenses.

Somos muitos

Somos muitos, eu só e eu comigo:
Enchemos o crepúsculo da vigília com os nossos ressentimentos
e bebemos dos cheiros dos sonhos e
fingimos que não fingimos.

Somos muitos, aqui aplanados
Num não sei quê de necessidade
Num não sei quê de imposição;
Se agora nos formos, amanhã voltaremos
de novo para longe do tempo
em que ainda era possível
ter feito alguma coisa.

Somos muitos neste jogo de cifras e criptas,
Divertimo-nos entre nós quando não nos interrompem;
Divertimo-nos,
mas hoje

hoje não é mais possível.


Filipe Raveira, Inédito

Filipe Raveira

Filipe Raveira é autor do blog Poesia Raveira onde tem vindo a publicar há vários anos, dezenas de trabalhos seus (http://poesiaraveira.blogs.sapo.pt/) e era um colaborador regular da fanzine O sabor das Palavras, o jornal do C@fé com Letr@s.

As ofendidas águas

Não sei dizer ainda quanta sede
habita a solitária água destes rios
nem do imenso frio que no fogo se oculta
para buscar seu velo ou uma nave
onde acolher se possam as palavras.
Este será afirmo seu casulo
seu derradeiro pecúlio e seu anelo
seu único refúgio e resistência.

Guardo por isso a réstia de seus nomes
nos ditongos ou sílabas que ainda
no alforge do verso me ficaram
para encontrar alento e soletrar
o presente do verbo prosseguir.

Com ela eu entreteço as caminhadas
que longe me ficaram e as outras
que contudo me esperam e impelem
a inventar um trilho ou uma nesga
de terra ou de aventura aonde caibam
os grãos de quanta areia permanece
órfã de antigos leitos deserdada

Não venho sabei então p'ra reclamar
outro penhor mais alto que não seja
o reaver da parte do quinhão
que por inteiro me cabe deste chão
que meu ainda é mesmo que ausente
como ausentes ficaram de seu mi(e)ster
os rios que dele foram separados.

Por estes rios eu digo o quanto dói
não tanto (só) o que se vê mas se pressente


Fernando Fitas, Inédito

Fernando Fitas

Fernando Fitas, nasceu no Alentejo em 1957 e reside na Margem Sul do Tejo, zona do país onde, desde sempre, desenvolveu a sua actividade profissional, chefiando, presentemente, a redacção do semanário Noticias de Almada.
Em 1975 inicia-se na actividade jornalística, colaborando nas páginas de O Século e, mais tarde, alargou a sua colaboração a vários jornais, regionais.
Em 1991 fundou e dirigiu o quinzenário «Outra Banda», no qual permaneceu até Maio de 1997. Foi director editorial da Revista Cultural Alma Alentejana (2000-2002).
Em 1978, edita Canto Amargo, o seu primeiro livro de poemas, a que se segue Amor Maltês (1986), Silêncio Vigiado (em 1992) e A Casa dos Afectos (2003).
Conquistou dois prémios: em 1999, o «Prémio de Poesia Cidade de Moura» e, em 2001, o «Prémio Literário Raul de Carvalho», instituído pela Câmara Municipal de Alvito.
Divulgador da poesia, foi membro da «Cooperativa Cultural Era Nova», tendo percorrido o país a dizer poemas de sua autoria na companhia de nomes consagrados como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Mário Viegas ou Sérgio Godinho.
Em 1989 publica a novela Cantos de Baixo e, em 1997, o livro de crónicas Mar da Palha.
Entre 1997 e Maio de 2004 realizou, para a Câmara Municipal do Seixal, um projecto no domínio da recolha e preservação de memórias e vivências de pessoas ligadas às colectividades mais antigas daquele concelho, denominado «Histórias Associativas – Memórias da Nossa Memória», trabalho editado em três volumes.
Figura na Antologia Poetas Alentejanos do Século XX, organizada por Francisco Dias Costa (1984) e na Antologia Literatura Actual de Almada, elaborada por Fernando Miguel Bernardes (1998) e na colectânea Da Liberdade (2004), sob orientação de Nuno Rebocho, Nicolau Saião e Jorge Velhote.

Nados-mortos

Há palavras
que não chegam a nascer.
Ficam-se guardadas
em bocas cosidas,
como mariposas sem asas
impedidas de voar.

Há gestos
de transparência tingidos,
mal-paridos,
perdidos.
Nados-mortos abandonados
e nas mãos, esquecidos.

E há vontades!
Amarradas.
Mentidas.
Espartilhadas.
Com grilhetas mantidas.
Que morrem enfraquecidas
como palavras,
- guardadas.
Como gestos,
- impedidas.


Dulce Lázaro, Inédito

Dulce Lázaro

Maria Dulce de Olival Lázaro nasceu em Lisboa em 1956 e mora em Almada há 23 anos. É licenciada em História e faz investigação genealógica.

«Que bom que é poder escrever»

Para muitos, a felicidade tem a forma de uma mulher
Para mim, a felicidade é poder escrever.

A poesia não é um cigarro que suga-se e deita-se fora
A poesia não é um carro que avaria a toda a hora

A escrita é o culminar de pensamentos
É viagem para um mundo sem tormentos

A poesia chama por mim como o íman atrai o ferro
Debruço-me sobre a caneta… e o resultado é o que escrevo

Eu escrevo porque sonho e sonho porque desejo
Tirem-me tudo! Mas jamais tirem-me o que escrevo.


Didier Ferreira, Inédito

Didier Ferreira

Didier Ferreira é natural de Angola, onde nasceu em 1986, contudo tem nacionalidade de S. Tomé e Príncipe e acabou por crescer em Portugal.
Estudante, cantor e escritor desconhecido, Didier Ferreira, um adepto fanático das palavras (como gosta de afirmar), encontrou em Almada o paraíso para as suas aspirações poéticas.
Humilde por natureza, costuma dizer que é apenas “só mais um” poeta e que o seu único vestígio, até ao momento, se encontra publicado na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Trago arte como história

Sente ao meu lado...
Ouça meu olhar...
Veja meus lábios...
Cheire meus medos...
Toque meu coração...
Estou diante de você...
Estou exposta aos seus sentidos...
Estou aberta, rasgada... desnuda...
Como Camille Claudel...

Sou fruto do meu passado...
Trago marcas, cicatrizes,
alegrias e desilusões...
Trago Van Gogh...
Trago vícios...
Trago Gaughin...
Trago fortes indícios,
dos meus pecados...
das minhas omissões...
Trago Rodin...

Trago Arte Como História...
Trago o sentimento de Claudel...
Trago matizes de Rembrandt...
Trago a inconstância de Picasso...
Trago o surrealismo de Dali...
Trago o existencialismo de Beauvoir...
Trago a ousadia de Duncan...



Sou protagonista do meu presente...
Saboreio minhas vitórias...
Lamento minhas perdas...
Sorrio o riso sincero...
Choro a lágrima sentida...
e quão sentida é.

Caminho...
Sou arquitecta do meu futuro...
Presumo formas...
Traço linhas...
Imagino espaços...
Edifico sonhos...

Caminho...
Essa sou eu...
Nada tão frágil que,
não se entregue a euforia...
Nada tão forte que,
não se entregue ao desalento...

Portanto convido...
Sente ao meu lado...
Ouça meu olhar...
Veja meus lábios...
Cheire meus medos...
Toque meu coração...
Com Arte...



Daniele Vasques, Inédito

Daniele Vasques

Daniele Vasques, é cidadã brasileira, nascida em São Paulo no início da década de 80. É Bailarina Clássica e Advogada.
Assina o blog Mulheres de Preto (http://mulheresdepreto.blogspot.com) onde publica trabalhos de sua autoria e é colunista regular da Gazeta do Blogueiro (http://www.blogueiros.com).

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Artéria

Estava claro!
Na teia das diferenças
Oravam opositores do nada
A conversa ia já longa, quando
E na partida desejada
Alguém comentou
Estou numa artéria!
Vivo por ela
sofro de amor pelo seu liquido
Há anos que me dou bem assim
E não será desta vez
Que mudarei de opinião
Na artéria quero estar
E nada mais!!!
Nem tentem demover-me
Sou implacável!!!
Digo-vos
A minha artéria é de ferro
Linda como uma noite de luar
Vivo e sofro por ela
Porque quero!!!
Ninguém me obriga
Por isso
Não digam mal dela
Ela é minha
Só minha
Querida caneta


Carlos Silvamar, Inédito

Carlos Silvamar

Carlos Silvamar é o nome artístico de Carlos Manuel Rodrigues da Silva, compositor, poeta, letrista e cantor, nascido em 1964 na região de Trás-os-Montes.
Com mais de 20 anos de carreira, e entre outras actuações, destaca-se a passagem pelos palcos do Coliseu do Porto, Hard-Club de Gaia, Indústria, FNAC do NorteShopping, Sardinha Viva, Pixote Bar, Postigo de Carvão.
Com o seu último projecto «Morse» sagrou-se vencedor do 1.º Festival de Música Moderna «Vai-Avante» contando ainda com outras participações em diversos festivais no Norte do país.
Enquanto poeta, tem diversos textos em prosa e poesia publicados n’O Sabor das Palavras, o jornal do Café com Letras, em Cacilhas, e no livro Feliz Natal Gondomar, da Câmara Municipal de Gondomar.
Mp3 para audição, poemas e contactos em http://www.musicaviva.com.sapo.pt.

Coisas revoltas

algumas coisas revoltam-se ao serem tocadas
e poucos saberão porquê.
revelam na atitude invisível
a agonia em que têm existido
obrigadas ao espectáculo dos humanos
face ao auditório dos inertes,
das pedras semipreciosas, preciosas e simples pedras,
as que amo.
como as compreendo,
incrédulas com este fim de século,
a lembrarem,
a desejarem
voltar aos tempos
antes de a história ser feita,
em que a ordem universal,
a gravidade e o silêncio,
só eram vagamente acordados
pelo onírico passar
de um meteoro.


Carlos Peres Feio, Inédito

Carlos Peres Feio

Carlos Peres Feio, é natural de Lisboa onde nasceu em 1944. Passou a sua meninice e adolescência em Moçambique. Reside em Carcavelos, concelho de Cascais desde os anos 60.
É Engenheiro Electromecânico e Consultor em Segurança contra Incêndios em Teatros/Auditórios. Já foi professor da licenciatura de Design Industrial (IADE).
Embora escreva versos desde há 30 anos, gosta de dizer, brincando, que é uma revelação, uma promessa!
É autor do blog Podiam Ser Mais (http://podiamsermais.weblog.com.pt) onde apresenta trabalhos seus. Ainda na web podemos ler poemas seus em blogs de amigos: «TriploV», nas listas «Escritas» e «Letras», em «Storm-Magazine».
O Mensageiro, de Leiria, publicou vários textos seus, em prosa e em verso, nos anos 70. Na rádio, antena 2, Paulo Rato, do programa «Os sons Férteis» disse versos seus.
Publicar um livro com 20 ou 30 poemas é o seu objectivo que, espera, aconteça um dia destes.

A pele do tempo

Secam-nos as lágrimas
antes de nos injectarem o veneno

no passado beijávamos o tempo
hoje fugimos dele

tentando despir
a roupa do teatro
à procura da pele


António José Lopes, Inédito

António José Lopes

António José Lopes nasceu em Viseu, em 1959, e vive em Almada.
É poeta, pintor, ilustrador, cartoonista, fotógrafo e faz banda desenhada.
Já publicou trabalhos seus nas revistas Silvershotz (Austrália), Shotes (USA), Komix (Itália), Stripburger (Eslovénia), Selecções BD, Barata, Número, V-Ludo, Quadrado, Resina, Paradoxo, Bíblia e jornal Blitz (Portugal).
Expôs em Portugal, Macau, Rússia, Itália, Holanda, Espanha, Suiça, Grécia, Bélgica e Sérvia e Montenegro.
Vem referido nas seguintes antologias: Literatura Actual de Almada (1998), Uma Revolução Desenhada (1999), Mutate & Survive (2001), Madburguer, Eslovénia (2002), Ilustração Portuguesa (1998 e 2004) e Alma(da) Nossa Terra (2006).

Distância

Seria então a música de uma prosa
Perante sociedade adversa.
Há entre nós, tantas coisas dispersas;
Fundos bilaterais,
Espelhos anormais
Análises
Como se o Homem fosse binário.
É:
Esta a dor do amor,
Entre políticas e comunicações
Onde a Humanidade se divide:
Poesia e Verdade.
Afinal que é feito da paixão de aléns imaginários?
Da virtualidade do Todo
Sem tela electrónica.
Mecânica a metamorfose Ser:
Vendido ao que está a acontecer.
Que é feito da Arte (?),
Quando o Homem pensa conquistar Marte.
Apenas nos resta
marear
Neste pleno Universo
De estórias e memórias
O qual rima em verso.


António Dâmaso, Inédito

António Dâmaso

António José Dâmaso da Silva nasceu na então freguesia do Algueirão – Mem Martins, em 1959. Aos três anos de idade veio viver para Cacilhas, onde residiu durante 33 anos.
A escolaridade foi dividida entre Almada, Serpa, Angola (Gabela), novamente Almada, Rio Maior, Coimbra e por fim Lisboa.
Findas as andanças e o cumprimento do então Serviço Militar Obrigatório, veio a integrar a equipa redactorial do semanário O Tempo, partindo, a partir daí para a carreira que tem abraçado até agora: jornalista.
Entre os diferentes órgãos da Comunicação Social onde exerceu a profissão salientam-se entre outros, os diários Globo, Dia e Correio de Setúbal (tendo sido um dos quatro fundadores e seu editor). Foi Director-adjunto do jornal Povo da Beira durante 9 anos e interino do Povo do Algarve.
Na qualidade de editor/coordenador, exerceu funções no Correio de Setúbal e nos periódicos Revista Cérebro, PC World e Tempo (Edição Internacional).
Trabalhou nas revistas Eles & Elas, A Revista, Nova Gente, entre outras.
Na qualidade de colaborador cooperou no Jornal de Almada, Outra Banda, Linha, Foot, TV 7 Dias, Correio da Manhã, Almada Press, França Press, entre outros.
Dividido entre a poesia, prosa, romance, ficção e pensamento, a escrita teima em ser a paixão da sua vida.

Momentos

Não adianta olhar para o céu
enquanto pássaros voam,
levando lembranças
de sonhos desatinados!

POETAS – SÃO DEUSES LOUCOS!

Esperam pelo amor
que não tem hora marcada...

POETAS – SÃO RESTOS DE "HUMANIDADE"!

O poeta, canta hinos ao Amor!
Mas o Amor é infinito...
e em instantes, tão poucos,
transforma momentos da vida
Numa bela eternidade!


Anna D'Castro, Inédito

Anna D'Castro

Anna D’Castro é natural de Lisboa, onde cursou letras, mas reside no Rio de Janeiro desde 1999.
É escritora, poeta, cronista e actriz. Começou a escrever poesia e pequenas peças de teatro, com 12 anos. Em Portugal, trabalhou em rádio como locutora e fez rádio teatro: como actriz humorista, inserida no grupo "Os Parodiantes de Lisboa".
Publicou, em 2000, o livro de poemas Aquela Voz. Participou de vários Festivais de Poesia, organizados pelo SEERJ e 1.º, 2.º e 3.º "Festival Carioca de Poesia – Estação Arco de Versos" uma parceria do Grupo Poesia Simplesmente/Prefeitura do Rio/APPERJ (Associação Profissional de Poetas e Escritores do Rio de Janeiro) e SEERJ (Sindicato dos Poetas e Escritores do Rio de Janeiro).
Ganhou vários prémios com seus trabalhos alguns dos quais estão publicados em Antologias, Colectâneas e Agendas Culturais. Participa activamente do circuito carioca de poesia.
Está inserida num grupo teatral, fazendo leituras dramatizadas de peças de teatro. Foi assistente de direcção e produção do espectáculo "Navegar é preciso... em Prosa Verso e Riso", da autoria do actor português Tony Correia.
Em Janeiro de 2006, tomou parte na Homenagem ao Poeta e professor da USP Antonio Lazaro de Almeida Prado, na Casa das Rosas em S. Paulo.
De Maio a Junho fez parte do elenco de apoio da novela "Belíssima", da Rede Globo de TV.
No prelo editorial: o livro Revelações, que deverá ser lançado em meados de 2007.
Assina os blogs Flores Selvagens (http://floreselvagens.blogspot.com) e Recolhendo Farpas (http://recolhendofarpas.blogspot.com) onde divulga trabalhos de sua autoria.

Plenilúnio

Quando te toco
Ouço o som do silêncio,
As horas adormecem
E os pássaros te contemplam.

Quanto teu beijo
Das horas já não me lembro,
Os pássaros fogem da lua
E se recolhem em um templo.


Alexandre Sartorelli, Inédito

Alexandre Sartorelli

João Alexandre Sartorelli nasceu em 1960 na pequena cidade brasileira de Itapira. Formou-se em engenharia aeronáutica e sempre trabalhou com informática mas a sua paixão é a literatura. E, em particular, um território de poucos, a poesia.
Publica trabalhos seus no blog A Canção é Tudo, alexsartorelli.blogspot.com, e na página pessoal: www.geocities.com/alexsartorelli/poesia.

Corre sem medo...

Sozinha vai, vestida de branco
Percorrendo a escuridão
Iluminada pelo fogo
Que trás luz ao seu coração.
Corre sem medo por estes caminhos.
Seus cabelos soltos vão,
Seu olhar preso está
Ao chegar ao destino
Perdido e tenso
No olhar do seu caminho.
Corre sem medo,
Corre vestida de branco.
Corre, corre
Sem nada temer
Não tem nada a perder
Nada a impede de correr.
Voa seu vestido branco
Corre, corre sem parar
Tanta pressa no seu olhar.
Rapariga de cabelos soltos
Que corres sem medo,
Nunca pares de sonhar


Susana Cunha, Caderno n.º 39

Susana Cunha

Susana Cunha nasceu em 1982, em Lisboa, e reside na Charneca da Caparica, concelho de Almada, desde então.
O gosto pela poesia surgiu-lhe em 1997, numa aula de Português. Considera que a poesia é uma diversão, um descarregar de palavras em forma de história. Escreve para se refugiar dos seus pensamentos porque, enquanto escreve, vive no seu mundo, onde pode expressar tudo aquilo que lhe vai na alma.
É autora do blog O Meu Mundo (http://omeumundo-suscu.blogspot.com) onde apresenta trabalhos de sua autoria.
Participou na colecção Index Poesis, caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º39 e, também, no n.º 26 do Debaixo do Bulcão Poezine.
É citada na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Em Setembro

eu quero uma calamidade natural
que arraste o meu corpo
imenso e inerte
neste turbilhão espiritual
para que ele seja resgatado
já sem vida
e a alma já perdida
no universo
de estrelas cadentes
que frequentam
os céus de Setembro.


Sara Costa, Caderno n.º 3

Sara Costa

Sara Costa colaborou n’ O Sabor das Palavras e publicou, em conjunto com Ana Lúcia Massas, H. M., Minda e Nia, o caderno n.º 3 da colecção Index Poesis.
Os seus textos eram entregues, pessoalmente, no C@fé com Letr@s, onde ia assistir às sessões de «Poesia Vadia» mas nunca nos deixou qualquer contacto.

Caros companheiros...

A vós dedico este poema
para que a bem da verdade
saibam que o que mais prezo é a santa liberdade.

Brincais dizendo: “gostas do café dos intelectuais”,
pois é verdade, é lugar de cultura e sabedoria,
mas faço-o para propagar a minha amada anarquia.

Na hora da revolução que convosco sonho alcançar
não estarei a ler nem a dançar
nesse bonito dia não me venham com tretas,
ninguém me encontrará no Café com Letras a beber café ou chá com limão
mas apenas e só atrás de uma barricada de arma na mão.


Rui Castro, Caderno n.º 34

Rui Castro

Rui Castro é um jovem almadense que despertou para a poesia, segundo fazia questão de nos dizer, através das sessões de «Poesia Vadia» no C@fé com Letr@s, onde foi ganhando inspiração e, sobretudo, confiança para partilhar com os outros os seus escritos.
Ligado ao Centro de Cultura Libertária, em Cacilhas, participou na organização de alguns eventos culturais que decorreram naquele estabelecimento.
Colaborador assíduo do jornal O Sabor das Palavras, onde escrevia textos de intervenção política e alguma poesia, também publicou o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 34 e é citado na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Cumplicidades

Observei-te, estavas, linda
Bonita como uma rosa em botão
Não te toquei estavas ainda
Longe no teu olhar, eu não!

Afinal não te era indiferente
Mas enfim, lá por dentro vias
Que havia em mim algo diferente.
Em todos os locais para onde ias

Para compensar o tempo ido
Prometias em pensamento
Recuperar o tempo perdido
À força de um sublime momento

Amor, estavas tão linda
Bonita como uma rosa em botão
Não te toquei estavas ainda
Perto do meu olhar, tu não

Finalmente reparaste
E soubeste que existia
Teu amor, em mim, encontraste
Pois foi tão lindo esse dia.

E foram tão longos os abraços
Carentes infinitos e diferentes.
E foram estes os nossos laços
Afinal não éramos indiferentes.


Rogério Simões, Caderno n.º 41

Rogério Simões

Rogério Simões nasceu em Lisboa no ano de 1949.
Em 1963 iniciou-se nos caminhos da Arqueologia, a sua grande paixão. Frequentou diversas escolas e conclui cursos superiores nas áreas da Contabilidade e Gestão.
Praticou atletismo no Sporting Clube de Portugal, tendo chegado a ser internacional a correr os 400 e 800 metros, e fez parte da equipa, sucessivamente campeã de Portugal, com Carlos Lopes e Fernando Mamede.
Trabalhou na Federação das Caixas de Previdência, na Acção Médica Social, no turismo e finalmente Quadro Superior das Alfândegas Portuguesas.
Escreve poesia desde a sua juventude. Colaborou n’O Sabor das Palavras e editou um caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia, da colecção Index Poesis (o n.º 41).
É autor do Blog Poemas de Amor e Dor que esteve durante vários meses consecutivos no 1.º lugar da lista dos 25 mais vistos daquele servidor:
http://poemasdeamoredor.blogs.sapo.pt.

Neste pranto

Um rosto proibido
na distância do adeus.
Um sorriso tão querido
perdido aos olhos meus.
Palavras que não são.
Pensamentos por dizer.
Neste canto de solidão
mesmo à beira do perder

E a luz cai-me dos olhos
num lago por desenhar.
O seu fundo são escolhos
de um verbo por inventar

Triste brilho de cristal
no meu rosto a bailar
É apenas água e sal
entre o partir e o deixar
E resta só um grito mudo,
como que um céu a estalar
A noite cai e é tudo,
neste meu mundo a mudar.

Dos meus olhos a luz cai
num lago por desenhar.
É um pranto que se esvai
do meu sonho a sangrar.


Paulo "Aelin" Moreira, Caderno n.º 12

Paulo "Aelin" Moreira

Paulo Alexandre Moreira, ou Aelin, nasceu há 38 anos (para sua infelicidade, costuma dizer na brincadeira) na cidade de Lisboa.
É licenciado em comunicação social, tendo desenvolvido a sua actividade profissional com jornalista e tradutor.
Gosta, naturalmente, de escrever, e, mais que um poeta, afirma-se um contador de histórias cujas linhas por vezes rimam.
É viciado em todos os temas em que a maioria não gosta de falar, por causa do cheiro, tem por religião o fundamentalismo almadense e gosta de brincar aos músicos, sendo o mentor dos projectos Disclosure, Gondolin e Terço Inverso.
Aspira a que um dia se lembrem dele como «aquele gajo que gostava de rir».
Publicou o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 12 (da colecção Index Poesis) e vem referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Nada

Mirei-me no espelho do meu quarto
Pensando poder ver-me como sou,
Porque sou o que fica quando parto
A imagem de mim não me chegou.

Se sou o que não é, sendo o que estou,
Se ao caminhar p’ra mim de mim me aparto,
Se cavalgo o corcel que já parou
E se de mim eu próprio já estou farto!

E se afinal eu quero o que não quero,
Se por nada esperar ainda espero,
Se sou vida perdida e encontrada,

Se digo apenas sim ao dizer não...
Porque é assim que sou, eis a razão
De ao mirar-me no espelho só ver nada!


Nogueira Pardal, Caderno n.º 33

Nogueira Pardal

José Nogueira Pardal nasceu em Aljustrel, em 1938, e vive na Verdizela (concelho do Seixal). Com apenas 13 anos já escrevia quadras que dedicava aos seus amigos do colégio. Com esta idade subiu pela primeira vez a um palco, para recitar um poema de Miguel Torga.
Veio para Lisboa no final da década de cinquenta, onde fundou, com três conterrâneos, os “Jograis do Alentejo”, com o intuito de divulgar a sua poesia e de outros poetas alentejanos.
Participa habitualmente nas tertúlias da SCALA e do C@fé com Letr@s onde, sempre que pode, declama poemas.
Está representado nas antologias poéticas: Abril Depois de Abril (2001); O Sonho de Paz na Rua dos Poetas (2003) e Vidas na Corda Bamba (2005). Consta na antologia Alma (da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Participou na colecção Index Poesis tendo publicado dois cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia (n.ºs 18 e 33).
Obras: Farrapos Duma Dor, poemas (1958), Contos da Mina, contos (2005).

Labaredas em ponto pérola

O fogo de artifício subiu às gargantas... borbulhou...
e o mar de Sede e do Sentir, apossou-se das mãos,
da boca,
do olhar.
E conquistei o Inferno em forma de Céu.
A minha Sede pegou no meu egoísmo pela mão
e segredou-lhe emoções interditas.
Colhi palavras de Fogo e Tempo que escorrem quentes e suadas
pelas paredes de mim...
Guardei-as.
Eram escaldantes como tudo que é interdito.
Amei-as... como tudo que é infinito.


Nia, Caderno n.º 24

Nia

Natércia Figueiredo (Nia), nasceu em 1959 nas Caldas de S. Gemil (pequena aldeia à beira do Rio Dão no Distrito de Viseu) e mora em Almada desde 1989.
É professora, tendo-se licenciado em “Ensino de Francês e Português” na Universidade de Aveiro.
Num dia, por acaso, a partir do “concurso” para dar nome ao jornal do C@fé com Letr@s, em Cacilhas, no qual ficou classificada em 1.º lugar com o título O Sabor das Palavras, começou a participar naquela fanzine com alguns poemas.
Participou, também, na colecção Index Poesis, tendo editado os cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 3 (em conjunto com outros autores) e n.º 24.
Vem referida na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.
Tem um blog pessoal, Tic-Tac Avariado (http://nia7.blogs.sapo.pt), onde divulga vários textos de sua autoria.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Na escuridão da noite...

Na escuridão da noite...
ou do dia, tanto faz
é tudo igual, sempre igual
vagueio nas ruas imaginárias
da minha sala fechada
quero gritar
quero correr
quero ser criança
quero esquecer
quero ser inocente
quero ser livre
Larguem-me
Deixem-me sair!


M. P., Caderno n.º 17

M. P.

M. P. reside no concelho de Almada e é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas.
A poesia apareceu na sua vida por mero acaso, como forma de expressar sentimentos durante uma fase do seu passado que quer esquecer. Publicou, em conjunto com Humberto Santos e Isabel Moreira, o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 17 da colecção Index Poesis e é citada na antologia Alma(d) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Manhãs claras

Na nudez dos sonhos
despidos de esperança
procuro a verdade insofismável
da tua ausência.
E quase esqueço
a pérfida clareza dos dias
em que,
tendo-te a meu lado,
vagueei solitária
pelas manhãs claras
e me perdi
no escuro dos caminhos!


Minda, Inédito

Minda

Ermelinda Toscano (Minda), nasceu na Trafaria, em 1959 e, actualmente, reside em Cacilhas. É licenciada em Geografia e Planeamento Regional com pós-graduação em Gestão Autárquica.
É funcionária Pública desde 1987 e exerce funções na Assembleia Distrital de Lisboa como Directora dos Serviços de Cultura.
É Vice-presidente da SCALA – Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada e faz parte dos corpos gerentes da Associação de Cidadania de Cacilhas – O FAROL.
Dirigiu O Sabor das Palavras (edição em papel e on-line) uma fanzine trimestral distribuída no C@fé com Letr@s, em Cacilhas, de cujo projecto cultural foi autora e no âmbito do qual concebeu e coordenou a colecção Index Poesis a qual incluía os cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia onde publicou, também, alguns dos seus poemas no n.º 3.
Participou na colectânea poética Vidas na Corda Bamba (2005).
Coordenou a antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, editada pela SCALA em 2006 para comemorar o Dia Mundial da Poesia, um volume que colige 250 poemas de outros tantos autores.
É autora do blog Infinito’s (http://metoscano.blogspot.com) onde publica artigos de opinião, poemas e fotografias, e é a grande dinamizadora do blog Poetas Almadenses (http://poetas-almadenses.blogspot.com).
Membro da Assembleia de Freguesia de Cacilhas (mandato 2005-2009), mantém um blog informativo sobre a sua actividade naquele órgão autárquico: Fazer Melhor Por Cacilhas (http://be-cacilhas.blogspot.com).

Conselho

Não lutes com a vida
por nada te oferecer:
Chorar?
De nada serve, podes crer;
Fugir?
A vida acaba sempre por te ver;
Gritar?
Mesmo que grites não deixas de sofrer;
Mentir?
Esperança vã que acabas por perder;
Viver?
Mas é isso o que tens sem quereres ter;
Morrer?
Morrendo sim, então podes ganhar
à vida ingrata que nada te quis dar.


Mendonça Ferreira, Caderno n.º 10

Mendonça Ferreira

Mendonça Ferreira nasceu em Angra do Heroísmo, em 1921, e vive em Cacilhas.
Jornalista de profissão, escreveu nos seguintes jornais e revistas: A Bola, Record, Diário de Lourenço Marques, e Equipa. Também trabalhou na Rádio Clube de Lourenço Marques, Rádio Asas do Atlântico, e Rádio Cadena (Espanha).
É fundador e foi secretário-geral do CNID (Clube Nacional de Imprensa Desportiva). Fez parte da equipa que redigiu a Enciclopédia Ilustrada do Futebol Mundial, publicada em Agosto de 1997 pelas Selecções do Reader’s Digest, revista onde também tem colaborado.
Consta na antologia Alma (da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Obras: Sangue de Boneca, contos (1962) e Cartonilhas, conjunto de versos publicados no jornal Record, com o pseudónimo João Lisboa, ilustrados com caricaturas de Carlos Laranjeira.
Está representado na colecção Index Poesis, nos números 10 e 16.

O ACELERA. Aprenda a morrer nas Estradas de Portugal

Só para ver o que acontece
Fazendo ver aos Campeões
Eu gostava que aprendesse
A morrer em dez lições

Não perca a oportunidade
De uma manobra arriscada
Mostrando a sua habilidade
Ultrapassar na lomba da estrada

Digo-lhe que é tão emocionante
Como navegar em águas turvas
Talvez mais arrepiante
Do que ultrapassar nas curvas

Mostre a sua personalidade
E nunca ande devagar
Mesmo não tendo possibilidade
Não espere para avançar

Andar em alta velocidade
Não há coisa mais bonita
Mesmo que não haja visibilidade
E a estrada o não permita






Circule no meio da estrada
Quando meia estrada não baste
Não se importe com nada
Cada qual que se afaste

Se vai numa via secundária
E quer entrar na principal
Entre de forma autoritária
Porque o seu direito é igual

Se vai na passagem de nível
Das que não têm guarda
Passar à frente é preferível
Do que passar à retaguarda

Se o seu carro derrapar
Não esteja com meias tretas
Carregue no pedal para travar
Vai ver que faz piruetas

Se vai mudar de direcção
Não faça sinal a ninguém
Nem que seja fora de mão
Você entra como lhe convém


Manuel A. Marques, Caderno n.º 38

Manuel A. Marques

Manuel Antunes Marques nasceu no ano de 1935 em Toulões, concelho de Idanha-a-Nova. É licenciado em Ciências Sociais e Políticas.
Em 1999 publica a sua obra-prima, o livro Os Lusos, um poema ao estilo camoniano sobre a história de Portugal na continuação de Os Lusíadas.
Colaborador assíduo d’O Sabor das Palavras e da colecção Index Poesis, tendo editado dois números dos cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia (n.º 38 e 44).
Principais obras: A Alma Poética Benfiquista; Amália, a Diva do Fado – poema sobre a vida de Amália Rodrigues; Etnografia de Toulões – usos e costumes de uma aldeia da Beira-Baixa; Viagem a Castelo Branco – livro de poemas sobre a região raiana; O Porto, Baluarte da Liberdade e Património da Humanidade; O Leão Rompante; Governação Poética do Século XX – poema sobre todos os Governos de Portugal durante o século XX e Cem Anos de António Aleixo.

Camões,

As palavras, a espada e os amores
deram-te um bilhete para o mundo
ao lado de marinheiros e navegadores
e alimentaram a tua alma de vagabundo

O oceano lavou-te a alma e o coração
numa longa caminhada para Oriente
distante da calúnia, inveja e perdição,
ao encontro de gente muito diferente

No meio da viagem surgiu-te a inspiração
após um encontro profético e assustador
em que surgiu no meio do mar triunfante
um gigante a quem chamaste de Adamastor

É assim que começa a tua aventura literária
onde relatas o mundo português
exactamente como o vês

Quando regressas ao nosso país
os eruditos desvalorizaram a tua obra poética
Que se imortalizou, tal como tu, de uma forma épica...


Luís Milheiro, Caderno n.º 30

Luís Milheiro

Luís Alves Milheiro nasceu nas Caldas da Rainha, em 1962, e vive em Cacilhas. A sua vida divide-se entre o jornalismo, a literatura e o Associativismo. Tem colaborado em vários jornais regionais, nacionais e boletins. Dirige os boletins culturais O Scala e Folha Cacilhense.
Como escritor tem sido premiado em vários concursos literários. Participou nas colectâneas de poemas Abril Depois de Abril, poesia (2001); O Sonho de Paz na Rua dos Poetas, poesia (2003), Almad’Abril, poesia (2004), Vidas na Corda Bamba, poesia (2005). Consta na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Obras Principais: Bilhete Para a Violência, ficção (1995); Desenhos Humanos, entrevistas (1999); Almada e a Resistência Antifascista, ensaio (2000); Campo de Sonhos, crónicas (2000); Flores Para uma Bicha-solitária, teatro (2003); 1999, O Ano do Regresso do Marquês, teatro (2003); Abril Poemas Mil, poesia (2004); Um Café com Sabor Diferente, contos (2004). Foi co-autor de: Gente de Letras com Vínculo a Almada, bio-bibliografias (2005) e José Elias Garcia, Esboço Biográfico (2005).

Castelo da morte

Meia-noite toca no
Castelo da Morte
Três pancadas soam fortes
No Castelo da Morte

Tal templo mostrava
Longos hinos dos mortais
Pelos quais os condenais
No Castelo da Morte

São murmúrios, são vozes
São mil rostos atrozes
Mil pedaços das almas perdidas
São pecados, são incestos
São mil gritos aflitos
Tal e qual como Deus
previu e condenou
E o criador dos fantoches aprovou

Naquele castelo todos são julgados
Uns com esperança outros sem lembrança
Vidas passadas mal amadas
naquele castelo da noite ingrata.


Lino Átila, Caderno n.º 10

Lino Átila

Lino Átila é cidadão do concelho de Almada. O seu gosto pela poesia aconteceu após, ao libertar as suas emoções através das palavras, reparou que adquiria uma nova dimensão quando proferidas em encostas ou vales.
Apaixonou-se pela "poesia sonora" e todas as suas vertentes. Participou em várias publicações, tais como Uma Dúzia de Páginas de Poesia (da colecção Index Poesis) e Debaixo do Bulcão Poezine, e nos trabalhos musicais da banda lusitana NOCTÍVAGUS: "Almas Ocultas", "Imenso" e "After de Curse".

A guerra pela guerra

Os degraus que nos levam
Ao patamar da vida
São de tamanhos diferentes
Criados por várias mentes
Esculpidos de dor e alegria
Como o tempo o ditou

Mas não pensem que terminou
A escada vai subindo
Sem corrimão
E a todo o vapor

Na torre de babel ninguém se entendia
Só quem queria
Esse é o momento
Em que as abelhas
Vão aprontando o mel
E os homens escalpelando a terra
Vulgarizando o mal e o fel

Mas o mais horrível
O não credível
É a guerra pela guerra
A puta da guerra
a guerra não traz soluções
traz mortes e desilusões
máfias e interrogações

é tempo de mudança
de luta e de esperança

a liberdade não tem cor
e tem todas as cores

a liberdade não é um acto isolado
não é uma etiqueta
é acima de tudo
um direito do planeta


Jorge Fialho, Inédito

Jorge Fialho

Jorge Fialho (www.fialho.net), produtor e realizador, licenciou-se em Historia pela Universidade de North London na Inglaterra. É autor de uma vasta colecção de poemas, fotografias e pequenas histórias, escritas e recolhidas durante os últimos 40 anos.
Do seu vasto currículo destacamos:
Ganhou um prémio em Londres pela introdução do conceito de Vídeo-Livro num trabalho sobre as cidades de “Londres em 1991” e “Barcelona em 1992”.
Formou, dirigiu e encenou o “New Peoples Theatre Group” com quem realizou a peça "The New Man Person", de sua autoria, e que foi apresentada no Festival Internacional de Edimburgo na Escócia.
Em Abril de 1994 realizou uma exposição fotográfica sobre a Índia e China, no Casino do Estoril, sob o tema: "Por mares nunca antes navegados / Por terras nunca antes visitadas", patrocinada pela Fundação Oriente.
Em 1998 produziu e realizou o filme oficial da A.T.L. (Associação Turismo de Lisboa), “Lisboa à Descoberta”, com música de Rão Kyao, editado em 14 idiomas incluindo o Russo e Japonês.
Em 2000/1 também como vídeos RTP, produz e realiza o Vídeo-Livro “Fátima Altar do Mundo – História e Mensagem 1916-2000” e o “Guia de Fátima” editado em 6 idiomas e exibido em 43 países via satélite.
Em Abril de 2004 lançou o seu último filme em DVD “Guia das Cidades do Futebol – Portugal 2004” editado em 6 idiomas.
De Janeiro a Agosto de 2004 colaborou com a Agência de Notícias Lusa, no desenvolvimento de Novos Projectos.
De momento tem um projecto/ filme em fase de pré-produção: “The Life and Travels of Lama Govinda” (www.lamagovinda.com).

De um devaneio nasce o encanto

de um devaneio nasce o encanto
do teu rosto
nítido noutras eras;
teus gestos serenos de criança
propagam-se além ...


nas fontes da cidade nossa
dou-nos de beber
o néctar fugidio de deuses
que outrora fomos ...

mas já não há pirolitos
e
do teu veneno
recebo as lágrimas que me
faltam


João Vasco Henriques, Caderno n.º 13

João Vasco Henriques

João Vasco Henriques nasceu em Alfama (Lisboa), em 1973.
Aos seis anos ingressa num seminário do qual foge aos 10 por ter sido espancado por um dos padres.
A morte do avô, tinha então 11 anos, marca-o profundamente. Começa, a partir de então, uma vida de itinerância por várias cidades europeias onde declama poesia na rua para sobreviver.
Aos 15 anos consegue o seu 1.º papel numa peça de teatro onde interpreta “O Parvo” no Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente e nunca mais deixou os palcos.
Ingressa no Teatro Experimental de Setúbal, através de António Assunção, e inscreve-se num curso de expressão dramática no Chapitô, após o qual vai viver para Holanda. Regressa a Portugal e vai para a Escola Superior Agrária de Santarém onde cria um grupo de teatro que acaba por abandonar.
Em 1998 é convidado para fazer parte do espectáculo Peregrinação inserido nas comemorações da Expo 98.
Foi encenador do grupo de teatro da Incrível Almadense (CIA), onde deu aulas de expressão dramática. Actualmente está no grupo de teatro O Grito.
Editou o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 13, da colecção Index Poesis, e vem citado na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Silêncios II

é com o olhar sempre em ti
que revelo este silêncio
e é estando sempre aqui
que me sinto bem propêncio

é aqui e é ali
o meio da desventura
alguém que fica aqui
crendo na tua candura

e és fêmea,
livre e fogo
esperança e fôlego também
és etérea
livre e logo
és graça, calma e bem

és um pouco, Lua decerto
como a teu nome convém
longe então eu desperto
e a Lua olho também

no olhar nada pago
tudo fico a dever
pois o meu olhar vago
espera ainda ver-te aparecer

tiro então mais um fôlego
da vida que não paguei
a minha, esta que logo,
é toda tua por lei

se a verdade só fosse escrita ...
tudo se poderia dizer
porém, penas bem dita;
é verdade sem morrer.


João Mota, Caderno n.º 10

João Mota

João Mota nasceu em 1962, em Cacilhas, terra onde ainda hoje reside. Começou a escrever poesia desde a juventude tendo colaborado em vários jornais, entre eles O Globo e o Jornal de Almada.
Durante muitos anos dedicou-se à fotografia e participou em vários concursos.
Foi colaborador assíduo de algumas fanzines, das quais se destacam Debaixo do Bulcão Poezine e O Sabor das Palavras.
Participou na colecção Index Poesis (caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 10). É referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Perdi a luz e o encanto

perdi a luz e o encanto
que nos levam à razão
de todo
o ser;
como se isso fosse
fruto
de outras artes
ou de quem nunca tivesse
chegado à ilusão dos vidros.

Isidoro Augusto, Caderno n.º 21

Isidoro Augusto

Isidoro Augusto é fotógrafo, pintor e poeta. Nasceu no ano de 1958, em Portel (Alto Alentejo) e vive em Almada.
Já publicou trabalhos seus nas seguintes revistas: Colóquio Artes (da Fundação Calouste Gulbenkien), OVO (Canadá), Photographie Magazine (França), Olho de Boi (Almada), entre outras.
Expôs, individualmente, na Polónia, Canadá, Espanha e Portugal, e colectivamente, na Austrália, Brasil e África do Sul.
Está representado em imensas colecções particulares espalhadas por esse mundo fora e já publicou quatro livros de poesia.
Participou na colecção Index Poesis, tendo publicado o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 21, e era colaborador assíduo da fanzine O Sabor das Palavras, o jornal do C@fé com Letr@s, com poesia e pequenas crónicas.É referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano e participou no catálogo e na exposição “Ilustração Portuguesa 2004 – Bedeteca de Lisboa” e na publicação “Olho de Boi”.

Tudo foi ilusão

Quando de mim partiste... O teu adeus,
Foi até breve... Logo me esqueceste!...
Eu fiquei chorando a despedida... o adeus!
- O desgosto me feriu tanto! Como pudeste?

Meu amor, quanta saudade eu senti,
Na tua ausência... Fui por ti esquecida...
E sofri! Nos meus pensamentos te vi...!
- Maior que a morte, é a dor da despedida!

Tantas vezes juntos não podíamos querer,
Que no mundo, amor, alguém houvesse...
Quem maior amor, sentisse e tivesse,


Nos corações... Não! Não queríamos querer...
- O amor que outrora sentimos no coração...
Hoje é muito vago... – Tudo foi ilusão!


Isabel Moreira, Caderno n.º 20

Isabel Moreira

Isabel Moreira nasceu na Lagoa, Faro, em 1943, e vive no Laranjeiro. Começou a escrever desde cedo, gosto que alicerçou através do convívio com alguns nomes importantes da literatura do concelho como Romeu Correia, António Correia e Maria Rosa Colaço.
Colaborou nos jornais Tribuna do Povo e Jornal de Almada. Escreveu o seu primeiro livro, A Juventude de Isabella, um romance autobiográfico, em 1978.
Tem várias obras prontas, na gaveta, donde se destaca o romance Os Lacaios da Burguesia, cujo manuscrito foi censurado antes da Revolução de Abril.
Consta na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
É autora dos volumes n.ºs 15 e 17 e co-autora dos n.ºs 20, 26 e 31, da colecção Index Poesis.

Nuvens

Farrapos, que o vento arrasta
Escondendo o astro rei
Nesta tarde de Outono
Levando de mim, lembranças
Que de ti guardei.
Ao longe se adivinha
O fresco que a noite trás
Onde, pensando escrevo
O retorno dessa paz.
Ó paz não te conheço
Quando tanto por ti anseio
Procuro-te como vagabundo
Neste sonho, onde vagueio.


Humberto Santos, Caderno n.º 32

Humberto Santos

Humberto Deus Santos nasceu em Barrocas, Torres Novas, em 1935, e vive em Almada.
Escreveu os primeiros poemas na juventude, que oferecia às namoradas. Só voltou a escrever poesia depois da Revolução de Abril. No início pequenas quadras para dar aos amigos; depois poemas, que organizou naquele que foi o seu primeiro livro, Os Meus Desabafos, publicado em 1985.
Doze anos depois reuniu poemas na sua segunda obra literária, Os Meus Sentimentos. Colaborou nos periódicos Jornal de Almada, Almada-Press, e também em algumas rádios da região. Está representado nos números 17 e 32 da colecção Index Poesis.

Mulher como tu

As mulheres como tu
As mulheres de Abril antes de Abril
Confundem-se e emaranham-se
Com a própria História dos Povos
Na longa caminhada
Em demanda da Felicidade

São as mães de todas as Gentes
Aquelas que levam o Verbo até às crianças
Que educam e semeiam ideias
Que marcam os trilhos
Para colher pensamentos

As mulheres como tu
Ensinam e vivem a dignidade
Enfrentam a intolerância de caras
E têm ainda tempo e arte
Para transformar a raiva e a dor
Em poemas eternos
Que nos cantam o Futuro e a Liberdade


Até sempre Maria Rosa Colaço
Abril de 2004


Henrique Mota, Inédito

Henrique Mota

Henrique Mota nasceu em 1951, em Cacilhas, terra onde ainda hoje reside. É dirigente associativo local e um cidadão empenhado na preservação dos valores históricos e culturais da sua terra.
Participou na colecção Index Poesis (caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 3). É referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Nas tardes ascetas...

Se souberes duma rima nova
não ma tragas cá

Se tiveres uma noite insónia
não venhas com ela

Porque, aqui, neste rincón de poetas
de lantejoulas e de vira-ventos
assobiamos todos contra emolumentos
nas tardes ascetas.

O que aqui se dá nem aqui se vende
turistas não põem pé nestes lugares
não sabem sequer da nossa existência

temos um portal onde mora o sol
temos a lua a cair do monte
falamos a língua que ninguém entende

Se souberes dum verso da cor da romã
se souberes da música da flauta de Pã
passa cá um dia

mas vem nu de choros, sem roupa de burlas
que nós temos cantigas, sinfonias, coros
aromas de amor às feiras segundas

Se sabes duma rima nova
guarda-a para ti

que nós vivemos na terra batida
na terra de aqui

Onde pára o vento a dormir a sesta
e me sustento de tudo que é são
debaixo do céu

aldeia moderna que rasgou o véu
da antiguidade


Fernando Morais, Caderno n.º 29

Fernando Morais

Fernando Morais nasceu em Vila Nova de Gaia em 1935, onde reside. É poeta e artista plástico.
Foi secretário e editor da revista Peregrinação, um periódico dedicado às artes e letras da diáspora portuguesa, e colaborou em diversos órgãos de comunicação social: O Emigrante, Gazeta do Sul, Jornal de Almada, Jornal de Campo de Ourique, Linha de Elvas, Jornal Publi Portugal, O Arrifana, entre outros.
Tem participado em dezenas de exposições colectivas e individuais, em Portugal e no estrangeiro.
Publicou: A Cidade Adversa (1963); A Cidade Ocupada pela Poesia (1983); O Poeta Escondido (1998); Voltar a Gaia (2000); As Ruas da Comuna (2002); Um Estalo na Modorra (2003); Conversando com Rimbaud (Caderno n.º 37 da Colecção Index Poesis); Não os Deixes Cair no Olvido (2004) e Rótulos (2006).

Nas vésperas

Nas vésperas
o Sol mudara de aparência...
Uma Primavera de Abril...
Andorinhas a voarem sem nuvens
na transparência
de um céu de anil.
Havia uma poalha translúcida,
uma poalha que transmitia esperança
que entontecia
uma multidão lúcida
que esperava o sinal inquieta
como se fosse uma criança
com a loucura dum poeta.

E a rádio às tantas
tocou a Grândola e o Adeus
quando a madrugada ainda escondia
a abertura dos céus.

Chegava o novo dia...
25 de Abril...
Os calendários quiseram parar,
a pomba branca
substituiu a andorinha,
os sorrisos abriram-se,
a história já tinha uma alavanca
de bem-querer,
de não dobrar a espinha.
Dava-se o milagre da elevação:
olhos atónitos,
tantas fardas,
tantas fardas,
e mais pombas brancas
e ainda
cravos vermelhos enfiados
nos canos das espingardas...


Fernando Barão, Caderno n.º 45

Fernando Barão

Fernando Barão nasceu em Cacilhas, em 1924. Ao longo da sua vida envolveu-se em áreas tão dispersas como o associativismo, o desporto, o campismo, a fotografia, o jornalismo, o teatro e a literatura.
A sua forte propensão para a escrita fez com que começasse a escrever para os seguintes jornais e boletins: Gazeta do Sul, Jornal de Almada, Praia do Sol e Fogo e Paz, Fogo de Campo, Ginásio, O Incrível, O Scala e o Pharol.
Como escritor tem recebido diversos prémios literários em Jogos Florais.
Em 1994 foi distinguido com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural pela Câmara Municipal de Almada.
Participou nas colectâneas de poemas Abril Depois de Abril, poesia (2001); O Sonho de Paz na Rua dos Poetas, poesia (2003), Almad’Abril, poesia (2004), Vidas na Corda Bamba, poesia (2005). Consta na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Obras: Estórias D’Almada Antiga, narrativa (1990); Escapes de Uma Vida, poesia (1992); Cacilhas, Memórias Soltas, narrativa (1994); Ginásio Clube do Sul, 75 Anos de Glória, biografia (1995) – de parceria com Henrique Mota; Margem Sul, poesia (1997); Chico de Almada – Histórias Alegres, ficção (2002); Sombra dos Sentimentos, poesia (2002); Um Almadense com Histórias, da Vida e da Caça, memórias (2003) e Clube Recreativo José Avelino, Uma Colectividade Especial na História de Cacilhas, história (2004) Mais Histórias de Um Almadense, contos (2005).

Mecanismo do sorriso

Dona Sandra Mendes do Rosário
[contínua de primeira classe]

descobri-lhe
hoje
o complicado mecanismo do sorriso
numa rua que dá para Cacilhas
depois de ter inventado a península da alface
e obtido como resposta
“Tá-se

Dona Sandra Mendes do Rosário
[contínua de primeira classe]

conheci-lhe
hoje
a faceta calcinada do mecanismo do sorriso
de ossos brandos
a ralharem,
de bata azul e branca
cobrindo-lhe a almofada do peito,
encosto-esconderijo onde
guardava, secreta, a ternura maternal
com que preparava o leite com Toddy

Dona Sandra Mendes do Rosário
[contínua de primeira classe]

não lhe conheci nada.
Imagino-lhe apenas o sorriso C
[de contínua de primeira classe]

a de sa gre gar -se

assim que chega àquela rua que dá para
CACILHAS


Danylo Americano, Poemas Radiografados, Caderno n.º 46

Danylo Americano

Danylo Americano é biólogo marinho de formação académica e reparte o seu tempo entre o Algarve e Almada.
Publicou o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 46, da colecção Index Poesis, e que correspondeu ao catálogo da exposição intitulada Poemas Radiografados que foi inaugurada no C@fé com Letr@s, em Maio de 2004.
É referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Quê?

Tive que baste.
De quê?
Daquilo que nos deixa
ficar em raiva contida
e permanente,
contra tudo!
Porquê?
Porque nos desarma
injustamente
e constantemente,
de tudo!
Para quê?
Para nos agarrar e dobrar
e cegar e queimar
até ao fundo
de tudo!
Tive que baste.
De quê?
De tudo!
De nada!


Conceição Cotta, Caderno n.º 9

Conceição Cotta

Conceição Cotta nasceu no Bié, em pleno coração de Angola, lá para meio do século passado, como costuma dizer. Deu aulas de Educação Musical.
Gosta de passar férias em Viseu, terra do pai, que nasceu numa linda casa à beira da Sé.
Em 1975 foi viver para o Porto, cidade que considera escura e fria da pedra, mas quente pela linguagem e pelo empenho dos seus habitantes, onde fez grandes amigos. Mais tarde viveu dois anos em Guimarães, a cem metros do castelo, e reside, actualmente, em Lisboa (porque a vida assim o quis, afirma).
Escreve pouco. Por vezes prosa mas mais facilmente poesia ou, melhor dizendo, prosa poética.
A escrita serve-lhe de descarga emocional. Por isso diz que escreve o que sente e só gosta do que escreve se conseguir reflectir o que sente.
Participou na colecção Index Poesis tendo publicado o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 9.
É citada na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

És especial para mim

Bom dia, meu amor!
Se pensas que és
especial hoje...
Enganas-te,
és especial, para mim,
todos os dias!...

És especial porque sonho contigo,
todas as horas do dia,
acordado, e a dormir,
a amar-te, e a desejar-te,
sem o meu corpo, mentir...
sempre os meus sonhos,
contigo, são, realidade!

- És especial para mim...


Carlos Gomes, Caderno n.º 23 (com Isabel Moreira)

Carlos Gomes

Carlos Gomes aceitou o desafio que a amiga Isabel Moreira lhe propôs e entrou no mundo da poesia mais por brincadeira.
Publicou, em conjunto com Isabel Moreira, o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 23, da colecção Index Poesis.

Carta a um ideal

Dizer-te que estou louco era mentir
– que eu estou velho demais p’ra endoidecer.
Não posso, pois, dizer que, se partir,
irei morrer de dor por te não ver.

Tão pouco poder-te-ia garantir
que a vida a dois feliz viria a ser;
também não sei (bem sabes!) se o Porvir
nos vai deixar sequer voltar a ver.

Não sei (quem saberá?) se o Amanhã
Nos vai trazer delícias ou tormento.
(Da vida, quem conhece toda a lei?)

Mas tenho de jurar-te, alma pagã,
que, se não me mentiste um só momento,
te sinto o Ideal que nunca achei!


Bernardes-Silva, Caderno n.º 8

Bernardes-Silva

Francisco Nogueira Bernardes-Silva nasceu em Lisboa, na freguesia de S. Jorge de Arroios, em 1930, e vive, actualmente, na Charneca de Caparica. Costuma dizer que, como uma desgraça nunca vem só, tinha de nascer no dia em que Camões morreu (10 de Junho).
Em 1957 concluiu o curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico (Lisboa) e exerceu a profissão sempre na indústria transportadora, desde a metalomecânica ligeira à fabricação de pneus. Foi emigrado em Moçambique e Angola durante cerca de 20 anos. Apresentou um total de quatro comunicações em congressos de engenharia.
Dedica-se à poesia desde a pré-adolescência, mas somente em 1991 foi publicado o seu primeiro livro: Poesia Extravasada. Tem o segundo, Poesia Sonetada (que inclui exclusivamente sonetos) prestes a entrar no prelo.
Colaborou na colecção Index Poesis caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 8.
É citado na antologia Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Mais forte

Entre o ar, a terra, a água, o fogo e o vento
Os elementos da vida e da morte
Existe algo recôndito no sentimento
O amor, entre todos o mais forte
Mais forte do que a terra que dá o pão,
Alimenta o corpo, o sangue, a vida
O bater do coração
Forte como a água que o fogo apaga
O fogo que corrói, que destrói
O fogo que o vento ateia, bravio, não se condói
Mais forte do que o mar que a terra alaga
Do que o ar que tudo envolve
Sempre presente, vencendo na própria morte
Que se multiplica, se divide, qual célula da vida
Em tudo quanto existe, o amor tem sua parte infinda.
Na flor desabrochando à luz do sol,
Na mãe seu filho acalentando,
No banco do jardim o velhinho recordando.
Em tudo existe amor.
O amor que enaltece, dignifica, ameniza a dor
Continuativo jamais fim terá
Enquanto sobre o mundo existir vida
O amor existirá
Contra o ar, a terra, a água, o fogo e o vento
Quem sabe?
Talvez um dia contado como mais um elemento.


Anyana, Caderno n.º 7

Anyana

Anyana é o pseudónimo de Idalina Alves Rebelo, que nasceu em Cacilhas em 1927. Desde muito cedo denotou interesse pelo mundo das artes e letras, com especial propensão para o desenho e para a poesia. Além de pintora e restauradora, Idalina Pinto Alves Rebelo colaborou em vários jornais, revistas e boletins, com poemas. Participou nas colectâneas de poesia Abril Depois de Abril (2001) e O Sonho de Paz na Rua dos Poetas (2003). Consta na antologia Alma (da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
É uma das poetisas que fazem parte da colecção Index Poesis, com o número 7, tendo publicado também Pregões de Cacilhas (2005).

Profeta

não te baste afirmá-lo
melhor é mesmo sê-lo
e ainda que o sejas
melhor é calá-lo.
a tua verdade
te deve bastar:
afirma tão-só
a tua verdade.
sê para o tempo presente
um poeta
(o que já não é pouco
no tempo presente)
e deixa que o tempo
se encarregue de mostrar
e demonstrar
se a tua verdade
além de ser hoje a tua verdade
(o que já não é pouco)
virá também a ser uma outra
verdade.

ninguém é profeta
no seu próprio tempo.


António Vitorino, Caderno n.º 14

António Vitorino

António Vitorino nasceu no Rio de Janeiro, em 1963, e vive no concelho de Almada. Começou a escrever bastante cedo e a publicar os primeiros textos e poemas nas páginas do DN Jovem, na década de oitenta.
Fez jornalismo na rádio e na imprensa local, nomeadamente na Rádio Baía, do Seixal, Rádio Voz de Almada, Sul Expresso, Jornal da Região, Sem Mais, País Económico e Jornal D’Hoje.
É um dos principais responsáveis pelo aparecimento da fanzine Debaixo do Bulcão Poezine, que é publicada regularmente há já quase uma década, e conta com a colaboração de vários poetas almadenses.
Tem três pequenos trabalhos poéticos editados na colecção Index Poesis, o primeiro dos quais com o pseudónimo de Afonso Gallo. Consta na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, organizada por Ermelinda Toscano.

Respirar o amor

Respirar o amor,
perseguição sem dor.
Quero o deserto do teu corpo perdido
E permanecer oculto na sombra dos teus dias.

Recordar tempos sem lugar.
Manhãs felizes sem estar.
E da alegria que fingimos,
Restam as palavras que escrevemos...


António Toscano, Caderno n.º 6

António Toscano

António Toscano nasceu no ano de 1965, em Almada, onde ainda hoje reside. É técnico profissional de bibliotecas e documentação e trabalha na Biblioteca Municipal de Almada.
Desde criança que mostrou apetência para as artes, nomeadamente pintura, tendo participado em exposições colectivas.
Durante vários anos foi professor de xadrez num clube recreativo do Miratejo.
Começou a escrever, sobretudo poesia e pequenos contos, ainda na juventude, tendo participado em alguns concursos literários.
Integra a colecção Index Poesis com os cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.ºs 6 e 27.
É referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Barcos que passam ao longo do cais

Barcos que passam ao longo do cais
Levando consigo tristezas a mais
Barcos que vão buscar o seu pão
Barcos que vão encontrar solidão.

Passam-se noites, passam-se dias
E tu não mais voltas, como merecias.
Deixaste na terra as tuas raízes
Deixaste na terra vidas infelizes.

As tuas crianças estão semi-nuas
De vermelho e negro se cobrem as ruas
Crianças que ficam sem o pai mais ver
É a vida que passa, tristeza é morrer.

Um homem do povo que morreu no mar
Levanta-te amigo, começa a lutar.
Contra esses senhores que te fazem escravo
Levanta-te amigo e mostra-lhes um cravo.

E a vida seguiu e o homem morreu
E a mãe a chorar não mais esqueceu.

Não te deixes mais roubar, ó pescador
Pela vida vais lutar
Luta pela Liberdade pescador
Pelo Poder Popular.


Ana Lúcia Massas, Caderno n.º 3

António José Coutinho

António José Coutinho participou na colecção Index Poesis, tendo publicado o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 28, e deixou material para se publicar um segundo volume que, entretanto, não chegou a ser editado por a fanzine ter sido suspensa por impedimento da coordenadora.
Vem citado na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

A porta...

A porta...
A porta encontrava-se
na mais imensa das florestas.
Sinto ainda as veias a gritar
perante a dor dos cortes
provocados por exércitos de espinhos.
Mas eu vi... eu vi, a Porta,
na mais longínqua das florestas
Ali, prostrada...
Fechada, calada, sublime, enorme... a Porta.
Toda a minha vida a procurei;
em antros de dor,
em céus de vermelho manchados,
em rituais de tempos sagrados,
em mundos esquecidos,
em ilusões de realidades incertas,
em êxtases de carne,
em espasmos de volúpia,
em cálices de loucura,
nos meandros do ser,
no labirinto da mente, caminhei...
percorri os caminhos assombrosos do sonho...
Eu fui pesadelo... Procurei... A Porta?
A velhice do meu corpo se apossou.
Já sem forças gritei: A Porta?
Finalmente, a Porta.
E eu sem chave para a abrir...


António Boieiro, Caderno n.º 5

António Boieiro

António Boieiro nasceu em 1970, em Almada, e reside na freguesia de Cacilhas.
Conforme faz questão de frisar, «dedica-se à luta poética desde sempre e para sempre, tendo travado duras "batalhas" que ficaram conhecidas nas mentes das gentes por: "O Incesto", "Poetry of Shadows" e "Presságio", estas cantadas. Outras como, "Que o acordar seja o anoitecer", "Sem cravo na lapela" e "Doce Cicuta", através da declamação teatralizada.
Outras ainda foram travadas nas folhas de papel e dão pelos nomes de: Suave negro hábito, Contos da lua nova, Uma Dúzia de Páginas de Poesia (Caderno n.º 8 da colecção Index Poesis) e Esta Doença que é Escrever.
Na frente do combate poético dinamizou várias sessões de declamação de poesia "vadia" e de "incentivo".»
A ideia inicial de realizar o 1.º Encontro de Poetas Almadenses (Cacilhas, 2006) é sua mas o projecto final foi enriquecido com os contributos de Ermelinda Toscano, Henrique Mota, Luís Milheiro e Nogueira Pardal, num trabalho de equipa digno de destaque.

Sinto-me adiado

Sinto-me adiado
dos anseios que alimento.
Tanta vida, ainda, por viver
tanto livro, ainda, por ler.
Aguardo com uma serenidade
impossível,
possível contraponto
da angústia.
Sinto-me na encruzilhada total
daquilo que almejo.
Desejos de alma,
e como sempre
as palavras.


António Alberto, Caderno n.º 19

António Alberto

António Alberto escreve compulsivamente. Sente a poesia como um alimento de que necessita para sobreviver.
Participava nas sessões de «Poesia Vadia» do Café com Letras, mas apenas para ler trabalhos de autores clássicos, como forma de os divulgar e foi um colaborador regular do jornal O Sabor das Palavras desde o primeiro número, com poesia e prosa poética.
Publicou cinco cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia, da colecção Index Poesis: n.ºs 4, 19, 22, 35 e 43.
É referido na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Palavras

Há palavras que são sedas formosas
Que roçam meus ouvidos com doçura;
Autênticos jardins cheios de ternura
Retratos de lembranças bem saudosas.

Mas outras, armadilhas ardilosas
Que prezam nos levar a desventura
Deixando na passagem amargura.
Mostram-se vis, cruéis e venenosas.

Vive-se de palavras e de frases,
Molas que no mundo são capazes
De o alterar, mudar-lhe a qualidade;

Ouvi todas aquelas que disseste.
Pena foi que embalado te esqueceste
De lhes juntar um pouco de verdade.


Anabela Dias, Caderno n.º 42

Anabela Dias

Anabela Dias nasceu em Lisboa, em 1949. Viveu no Barreiro até aos 38 anos tendo-se mudado para o concelho do Seixal a partir de então.
Começou a escrever poesia aos 9 anos e em 1985 editou o seu primeiro livro intitulado Poemas ao Vento, o qual continha poemas escritos entre os 9 e os 15 anos, entre os quais alguns premiados.
Durante muitos anos, fez teatro amador no Barreiro e hoje é gerente comercial numa empresa de publicidade e marketing.
Participou na colecção Index Poesis com o n.º 42 dos cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia.
Vem referida na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Canção

Tranquilas notas de música
transparentes e tão belas como frágeis
habitantes vêm do coração
Ah os vidros sempre familiares
na rua nas horas lembram asas
onde os minutos escoam...

Anuncio o Homem Ouro – Puro
No ar do Tempo a voz do Espírito
faz reflexos
de passos no destino de marulhar assim
sobre caminhos de silêncio... Sei
da lâmpada da vida nas palavras
fechadas até hoje na
natureza que se ama

Oh é possível subir a montanha
e também descer ao vale
para o meio
dos frutos: conheço a certeza
Homem que chega junto da sua
Alegria de límpida íris marinha
Com seus tesouros do mar e maravilhas luminosas...


António José Coutinho, Caderno n.º 28

Ana Lúcia Massas

Ana Lúcia Massas, reside em Almada e é uma mulher firme e determinada, que nunca cruza os braços perante as adversidades da vida. A poesia é um escape a que se dedicou mais no passado do que hoje em dia, em que a sua atenção está, de corpo e alma, dedicada à intervenção cívica e política.
Participou na colecção Index Poesis com este mesmo poema (caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 3) e teve alguns trabalhos publicados numa outra fanzine intitulada Lado Esquerdo.
Vem referida na antologia de poetas almadenses Alma(da) nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Solidão

Eu queria ter um amigo
Um amigo companheiro
Que em horas de incerteza
Fosse o meu Sol o meu esteio.

E as horas de alegrias
Aquelas de Bem Querer
A ele eu as queria dar
Com elas o anseio ter.

Vem amigo. Vem depressa
Parar com este desgosto
Que ensombra os meus olhos

Meus olhos que foram belos
Hoje só querem chorar
Vem! Para poderem amar!


Alice Luiz, Caderno n.º 2

Alice Luiz

Alice Luiz reside na Charneca de Caparica. Foi uma entusiasta participante das sessões de «Poesia Vadia» do C@fé com Letr@s, em Cacilhas, onde gostava de declamar poesia de sua autoria e de autores consagrados.
Colaborou, desde o primeiro número, no jornal O Sabor das Palavras com poemas e contos.
Participou na colecção Index Poesis com o caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 2.
É referida na antologia de poetas almadenses Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano.

Poesia

A poesia,
é um dinossauro que coabita dentro de nós.

Se a vontade for tanta,
basta inspiração para criar,
túmidos dedos... cegos,
para a poder moldar,
e glória
para encher todas as bocas
que um dia te venham a declamar!

Ó POESIA !!!


Alberto Afonso, Poemas Dispersos, Caderno n.º 36

Alberto Afonso

Alberto Afonso nasceu em Almada, em 1960. Embora escreva poemas desde a adolescência, só em 2000 é que deu à estampa a sua primeira obra, incentivado por amigos.
É colaborador assíduo do boletim cultural O Scala e foi-o, também, d’ O Sabor das Palavras.
Participou nas colectâneas: Abril Depois de Abril, poesia (2001); O Sonho de Paz na Rua dos Poetas, poesia (2003); Almad’Abril, poesia (2004); Vidas na Corda Bamba, poesia (2005).
Consta nas antologias Versos que Alguns Escreveram, de Carlos da Costa (2001) e Alma(da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Obras: Primeiros Poemas, poesia (2000); Sonetos, poesia (2001), Recantos de Minha Terra, poesia (2003), Poemas Dispersos, poesia (2004) – incluído na colecção Index Poesis.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Trinta anos depois de Abril

Mil novecentos e setenta e quatro
vinte cinco de Abril, sempre!
Importante é:
não esquecer
trinta anos que se querem...
esquecer.

Mais que avisar a malta
o que é preciso
é que a malta esteja avisada
para que o Abril em Portugal
seja mais, muito mais,
que uma cantiga.


Abrantes Raposo, Caderno n.º 45

Abrantes Raposo

Abrantes Raposo nasceu em Escusa, concelho de Marvão, em 1934, e vive em Cacilhas.
A poesia e a história local têm sido os seus espaços preferenciais de criatividade literária.
Em 1996 a Câmara Municipal de Almada atribuiu-lhe a Medalha de Prata de Mérito Cultural.
Participou nas colectâneas poéticas Abril Depois de Abril (2001), Sonhos de Paz na Rua dos Poetas (2003), Almad’Abril (2004) e Vidas na Corda Bamba (2005). Em parceria com Carlos da Costa, publicou a antologia poética Constantemente (2003).
Consta nas antologias Versos que Alguns Escreveram, de Carlos da Costa (2001) e Alma (da) Nossa Terra, de Ermelinda Toscano (2006).
Obras Principais: Poesia – Letras do Meu Pensar (1983); Mais Letras do Meu Pensar (1984); Antologia Poética (1985); Expressão do Meu Sentir (1989); Jubileu Aurífero (1996); Ditos dos Outros e Meus (1997); Ensaios – Os Palmeiros e os Gafos de Cacilhas (1989), e Os Távoras de Caparica (1991), ambos de co-autoria; Almada e o Grupo do Leão (1996); O Lazareto e os Hóspedes Imperiais (1999); Manuel Henrique Pinto, Vida e Obra. Ensaio Bio-Iconográfico (2002) Gente de Letras com Vínculo a Almada (2005) e José Elias Garcia, esboço biográfico (2005), estas duas últimas obras de co-autoria.